paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

samedi, juillet 08, 2006

Idiote à Paris



Paris continua linda e iluminada, mas tem dias que dá vontade de virar estátua! Assim sendo, eu me sinto idiota quando:

• Vou à boulangerie e o atendente é a mesma pessoa que faz tudo: entrega a baguete, pega o dinheiro, dá o troco, limpa o balcão e sabe se lá o que mais precisar sem lavar às mãos entre uma ação e outra. Eu sempre penso que se estivéssemos nos trópicos viveríamos doentes com tanta falta de higiêne. Os norte-americanos são os mais horrorizados, chega a ser engraçado vê-los discutindo porque os franceses simplesmente não entendem o motivo! Ou melhor, não querem, porque são séculos de cultura, cultura da sujeira, bien sûr!

• Tenho que usar um computador com o teclado AZERTY e não QWERTY que é o que você usa. Essa sequência de letras fazem o inferno na minha cabeça, no início pensei que não iria sobreviver, me sentia uma galinha ciscando milhos que não existiam, foi difícil. Ainda acho que fiz mal em comprar um computador com o teclado QWERTY, já que na França eles usam o AZERTY, ou seja, vou me sentir uma idiota sempre que tiver que trabalhar numa máquina que não seja a minha, tsk, tsk.

• Fui ao banco retirar o meu cartão e talão de cheques e levei um susto! Impresso neles estava o nome do meu marido. Sem entender comentei com o gerente que devia ter ocorrido algum engano porque eles haviam colocado Madame seguido do nome e sobrenome do meu marido. E o gerente: “Erraram o nome do seu marido?” Atônita descobri que na França a praxe é a esposa “carregar” o nome do marido… Eu nem havia nascido quando sutiãs foram queimados em praça pública nesta mesma terra pra quê? Pra no final eu receber um cartão eletrônico em que sou a Madame FULANO de Tal. Incroyable!!!

• Só posso entrar na escola em que tenho aula de francês e-x-a-t-a-m-e-n-t-e no horário do meu curso. A primeira vez estranhei que eu era a única em todo o pátio onde cabem mais de 100 pessoas. Logo a seguir apareceu uma senhora, provavelmente a bedel, perguntando o que eu fazia ali. Expliquei que esperava minha aula. Ela pediu minha carteirinha, conferiu o horário e disse para eu voltar apenas às 14h00. Fui dar uma volta e retornei às 13h56 conforme verifiquei no relógio. A mesma senhora veio de novo e disse que eu não podia ficar ali, que era para eu voltar apenas na hora da aula. Sem entender nada disse que eu tinha aula dali a 4 minutos, como era para eu ir embora? Discussão vai, discussão vem, dá 14h00 e a fofa diz que eu posso entrar junto com uma manada que vem a passos largos atrás de mim praticamente me atropelando! Dá para acreditar numa coisa dessas? Quando estiver nevando vou ser obrigada a pegar uma pneumonia porque não posso esperar no recinto! Estou passada até agora, aliás ultra-passada!!!

• Minha garganta fica impregnada de fumaça de tanto que os franceses fumam, é uma
loucura! Os fumantes são maioria e não param nunca, é o tempo todo, em todos os lugares. Soube que na Espanha é pior (difícil de imaginar), mas que a ventilação em espaços fechados é eficiente. Em Paris é impossível permanecer por muito tempo numa casa noturna, num restaurante ou mesmo na casa de alguém sem que eu não comece a tossir e tenha que ir embora para poder respirar. E olha que não sou do tipo chata e nem patrulhadora, é que aqui a fumaça é extraordinária, está além de humildes pulmões condescendentes. Sei que é o início da minha escalada que terminará, na melhor das hipóteses, numa salinha de inalação para tentar desobstruir os brônquios entupidos por cinzas. Com sorte algum fumante estará ao meu lado agonizando de câncer, mas eu sinceramente não acredito nisso.

• A espera pela entrega de móveis é de até 2 meses! E é óbvio que o “até 2 meses” significa categoricamente 60 dias e 60 noites para o desespero de quem não sentava num sofá na própria casa em quase 6 meses!!! Tantas colunas escritas sobre um tapetinho surrado no chão frio do que eu chamo de sala, os dedos prejudicados pelo clima seco a desafiar as teclas do laptop, a maçã do computador a me iluminar e os miados do gato lamentando a falta de ração a me enlouquecer… (perdoem o incômodo pelas tristes memórias, prometo me controlar!). Enfim, o entregador foi embora, eu mesma tirei os móveis das embalagens e descobri que havia mais do que mesa, armário, cadeiras e sofá: uma temível aranha de uns 12 centímetros, furiosamente armada, 8 olhos pestilentos vidrados em mim e pronta a desferir a picada fatal ao menor descuido. Foi demoníaco, estou tensa até hoje com o caso, não posso nem lembrar que fico histérica! Tudo o que eu tenho a dizer é que foi Deus e só Deus quem me ajudou nessa má hora, muita fé e oração até a fiandeira se desmilinguir. Amém!

E por hoje chega de histórias de terror, durmam com os anjos.