Os Apuros de Balenciaga

Quem passar por Paris até o final de janeiro não pode deixar de visitar Cristóbal Balenciaga, no Musée de la Mode et du Textile, parte do complexo do Louvre. A exposição está linda e impecável, com vestidos marcantes do estilista expostos à meia-luz. E o melhor: em vários tamanhos! Porque as mulheres têm corpos diferentes e um estilista primoroso precisa saber como deixar uma forma menos delicada elegante. Cristóbal sabia a mágica e a prova está nas vitrines que exibem cerca de 160 peças onde estruturas delgadas acompanham outras decididamente robustas. E são vestidos de condessas, atrizes famosas, mulheres da alta-sociedade, princesas e rainhas. Cristóbal vestiu todo o tipo de corpo com o mesmo esmero!
Um pequeno porto pesqueiro, na cidade basca de Guetaria, foi onde Cristóbal nasceu e passou a sua empobrecida infância. Filho de um pescador e de uma costureira, ele se encantou com o trabalho da mãe, sua primeira professora e incentivadora. E o seu talento era tão especial que, aos 12 anos, desenhou um elegante vestido para a marquesa que morava na mesma cidade de pescadores, mas num palácio que mal cabia em seus olhos de criança. A Marquesa de Torres, apaixonada pelo vestido, se tornou sua grande aliada na carreira como estilista. Cristóbal, então, começou a frequentar o ateliê de um alfaiate de Madri, onde aprendeu os fundamentos da profissão.
A experiência adquirida na alfaiataria permitiu que o purista e classicista Cristóbal, não só desenhasse os seus modelos, mas também os cortasse, armasse e costurasse, o que não é comum entre os estilistas, em geral eles apenas desenham as suas criações. Já repararam como estilistas costumam se irritar quando alguém pergunta se eles costuram? Ofendidos como cães expulsos de igreja eles gritam: EU NÃO SOU COSTUREIRO!!! Balenciaga o era, além de ser ambidestro com tesouras e agulhas. Madame Coco Chanel dizia: “só Balenciaga é um costureiro de verdade, só ele é capaz de cortar bem um tecido, montá-lo e costurá-lo à mão”.
A experiência adquirida na alfaiataria permitiu que o purista e classicista Cristóbal, não só desenhasse os seus modelos, mas também os cortasse, armasse e costurasse, o que não é comum entre os estilistas, em geral eles apenas desenham as suas criações. Já repararam como estilistas costumam se irritar quando alguém pergunta se eles costuram? Ofendidos como cães expulsos de igreja eles gritam: EU NÃO SOU COSTUREIRO!!! Balenciaga o era, além de ser ambidestro com tesouras e agulhas. Madame Coco Chanel dizia: “só Balenciaga é um costureiro de verdade, só ele é capaz de cortar bem um tecido, montá-lo e costurá-lo à mão”.


Desde as suas primeiras coleções, este autodidata impôs o seu estilo pela perfeição de seu corte, que se tornou lendário. A base de suas criações repousava em linhas clássicas. Criou várias silhuetas para a mulher, experimentou proporções e cores sempre com resultados surpreendentes, até dramáticos. Influenciado pela cultura de seu país, Cristóbal se inspirou e impregnou seus modelos de Espanha: capas de toureiro, vestidos de “infanta” (as jovens princesas espanholas), a audácia na cartela de cores que abraçava do negro profundo às tonalidades levemente ácidas. Por sua arte singular ganhou o título de “Rei da Couture Parisiense”.
Foi patrão e mestre de André Courrèges e Emanuel Ungaro, amigo de Hubert de Givenchy. Celebrado por todos os seus colegas como símbolo de perfeição, empregou toda a sua vida para explorar as técnicas de costura que ele possuiu no mais alto grau. Christian Dior, seu concorrente famoso, o chamou de “mestre de todos nós”. Balenciaga, severo, gostava de dizer: “um bom costureiro deve ser arquiteto para os projetos, escultor para a forma, pintor para a cor, músico para a harmonia e filósofo para as medidas”. Ele jamais concedeu uma única entrevista, jamais permitiu que a imprensa fotografasse os seus desfiles, era um homem espartano que nem relógio usava. Parece que se entusiasmava com os belos alemães que cercavam Paris. Como culpá-lo?

Cristóbal Balenciaga morre aos 77 anos, em 1972, na costa espanhola do Mediterrâneo, logo após entregar a sua última criação: o vestido de casamento da Duquesa de Cádiz, neta de Francisco Franco. Uma antiga e saudosa cliente oferece como epitáfio: “as mulheres não precisavam ser perfeitas ou belas para vestir as suas roupas, suas roupas as tornavam perfeitas e belas”.
Guetaria, a cidade que o acolheu no primeiro respiro, também abrigará o seu museu, no Palácio Aldamar, a partir do ano que vem. O palácio, antiga residência dos Marqueses de Casa Torre (pais da Rainha Fabiola da Bélgica), foi onde Cristóbal Balenciaga arrematou o seu primeiro passo no mundo da alta-costura e para onde retorna como único e eterno soberano.
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