paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

samedi, avril 14, 2007

grâce à Marie-Antoinette

Sofia Coppola finalmente conseguiu a sua porção francesa. após ter sido amaldiçoada por historiadores fanáticos que não gostaram da sua versão sobre a vida de Maria Antonieta, agora ela se consagra no papel de mãe da petite fille Romy, nascida em solo gaulês. o pai é o francês Thomas Mars, músico e vocalista da banda Phoenix, que ela conheceu durante as filmagens de “As Virgens Suicidas” e que as flechas do cupido uniu em "Maria Antonieta".

verdadeiramente odiada pelo povo sob o seu reinado, foi alvo de várias sátiras violentas, entre elas a pornográfica "Les Amours de Charlot et Toinette", de 1779. o autor zombava do casal real cantando que o pequeno pênis do rei não satisfazia o belo corpo e os seios palpitantes da jovem rainha; sozinha na cama ela convulsionava seus desejos vulgares. mas isso foi até aparecer um certo capitão sueco que lhe apresentou os arrebatadores campos de batalha de Vênus.

Maria Antonieta esvaziou os cofres reais abastecendo o seu belo e invejadíssimo guarda-roupa, comprando jóias, promovendo festas em Versailles (a etiqueta impedia a realeza de frequentar Paris), jogando e apostando, sua grande paixão. na Conciergerie de Paris, podemos ter uma idéia do que lhe restou após a Revolução: além da cama, do toucador e da escrivaninha, a inseparável mesa de jogos com quem ela devia dividir partidas imaginárias para esquecer da vultosa desgraça em que havia afundado. imagino que nestes dias infindáveis e frios ela talvez tenha desejado uma vida menos faustuosa e com menor responsabilidade... com Mozart, por exemplo. ele teria pedido a sua mão quando ela ainda era uma menina, ele já um super-star na corte austríaca.

cada um encena o seu destino e recebe os seus próprios encargos, Maria Antonieta parece ter pago caro pelos seus. terminou completamente só, separada dos filhos e do marido, vigiada noite e dia pela sombra de um guarda e pela cabeça de sua melhor amiga, fincada do lado de fora de sua pequena janela. se algum dia a rainha sentiu saudades dos amplos jardins de Versailles que vencem o horizonte, na sua "prisão dourada", como os franceses chamam a sua cela na Conciergerie, essa saudade certamente foi mais forte.

no lançamento do DVD de “Maria Antonieta” na França, Sofia Coppola explicou de novo porque se apaixonou por esta personagem tão rica e marcante. afinal o que seria da Revolução Francesa, dos brioches e das lojinhas de Versailles se não fosse Maria Antonieta?


Por que um filme sobre Maria Antonieta?

Eu sempre fui fascinada por aquela época, o século VXIII, Versailles. Após
ter visitado o palácio de Versailles, eu comecei a ler várias coisas sobre Maria Antonieta, principalmente o livro de Antonia Fraser, e descobri uma realidade bem mais complexa do que o mito de uma mulher frívola e estúpida.

No filme você mostrou o seu lado humano, o que deu originalidade ao seu projeto, mas também o que lhe valeu a ira de alguns historiadores…

Ela tinha defeitos, mas ela também estava numa situação que escapava ao seu controle, ela era muito jovem. imagine, uma menina de 14 anos em que se colocou todas as responsabilidades, se pode imaginar que nesta idade a política interessa menos que vestidos, sapatos, festas. Eu, de qualquer forma, a entendo.

Exatamente em qual momento você fala de você através dela? Você também viveu como uma princesa, sob a asa de seu pai, Francis Ford Coppola…

Por ter escolhido a carreira de cineasta existiram certas expectativas, mas nada se compara à pressão que foi submetida Maria Antonieta. Eu me vejo nela num nível mais básico, dentro desta dificuldade de encontrar um caminho numa sociedade cheia de códigos. É um rito iniciático, alguma coisa que pode falar à toda menina ou a todo menino adolescente.

Sob o rótulo de um filme de época, “Maria-Antonieta”, é um teenage-movie….

Exatamente. Eu amei a idéia de ter esses adolescentes livres por sua própria conta em Versailles. É louco quando pensamos que, pouco antes da Revolução explodir, todos eles eram adolescentes.

Todos os seus filmes precedentes ao “Maria-Antonieta” tratam da adolescência…

A adolescência é um momento em que você ainda tem “tempo de perder tempo”, de escutar música, de fazer todas as coisas que, no geral, você nao tem mais tempo de fazer quando adulto.

O making-of de “Maria Antonieta”, em que vemos o seu pai e seu irmão Roman, que foi o diretor da 2ª equipe de filmagem, foi concebido por sua mãe, Eleanor. Você tem trabalhado em família?

Sim, e tem mais gente também: Jason Schwartzman, que interpreta Luis XVI, é meu primo e Milena Canonero, a figurinista, trabalhou muito com o meu pai e eu a conheço desde sempre. Quando eu era criança eu visitava as filmagens do meu pai e tinha essa atmosfera familiar, agora eu tento perpetuar isso no meu próprio set.

Dizem que você queria Alain Delon no papel de Luis XV…

Sim, eu lhe propus o papel, mas ele recusou. Ele achou que uma jovem americana não poderia dirigir um filme sobre a história da França. Eu não procurei fazer um documentário, mas um filme impressionista. A intriga me interessa menos que a atmosfera e os sentimentos.

Quais são os seus projetos?

Eu acabo de ter um bebê e ainda não voltei a escrever. Mas para mim “Maria Antonieta” fecha uma trilogia sobre a adolescência, o meu próximo filme será bem diferente.

(entrevista para a revista Le Nouvel Observateur)