paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

lundi, septembre 18, 2006

La Goutte d'Or

ao norte de Paris, no quadrilátero que compreende a rue Stephenson e o Boulevard Barbès, a rue Ordener e o Boulevard de La Chapelle, se entranha a rue de La Goutte d’Or - tradicional território da população árabe parisiense. O nome da rua veio do vinho, o tal Goutte d’Or, produzido nesta região, que foi agrícola, até o século XIX. A partir de 1840, as terras da então periferia parisiense começaram a ser loteadas e foi o fim da vinícola.

por esta época, o desenvolvimento industrial jogou em Paris uma importante e densa população de trabalhadores, provenientes dos quatro cantos da França, que se instalaram por ali. em função disto, os imóveis eram compostos por pequenos alojamentos e apartamentos mobiliados, que poderiam acolher prontamente a estes imigrantes (se atualmente a média parisiense é de viver entre 31 mts, vocês imaginam o que quer dizer pequenos alojamentos na língua francesa, hehe). depois deles vieram operários da Bélgica, Itália, Espanha e Polônia, mas foi a partir dos anos 50 que a comunidade árabe se instalou e dominou o lugar. Nos anos 80 também chegaram os africanos, portugueses, iugoslavos e chineses, colorindo ainda mais o quartier.

essa tradição, de acolher os diferentes tipos de imigração, deram ao quartier o status de pluri-cultural, os franceses adoram e repetem sem parar que é "très vivant!", mas francês que é francês não mora lá... é reduto de "sans-papiers" (imigrantes em situação irregular), está sempre infestado de gente, e é famoso por seu intenso comércio popular: bazares de quinquilharias e coisas usadas, lojas de tecidos africanos e de música magrebina. além dos inúmeros restaurantes "jesus me chama", "maomé me chama" ou "buda me chama", ao gosto de cada crença, hehe.

pelos livros de Émile Zola, o quartier já foi porão do inferno, atualmente há condições apropriadas de higiêne e ninguém morre de frio como alguns de seus personagens. foi neste quartier que se situou a sofrida ação de "A Taberna” ("L'Assommoir"), que Émile Zola publicou em 1877. se algum dia você passar diante do número 20, da rue de La Goutte d’Or, saiba que foi este o endereço de Gervaise, a miserável heroína de Zola, que lavava roupas um pouco mais adiante, nos números 11 e 15 da rue de Islettes.

e se você passar em frente aos vários salões de beleza afro que se multiplicam por ali, vai reparar que os cabeleireiros não varrem os salões como se faz no Brasil, aqueles chumaços nojentos de cabelo se acumulam no meio da calçada, um horror! e se o vento bater melhor tapar a boca pra não sufocar com o material cabeludo, credo! saindo deste pesadelo, talvez você também repare no peculiar aviso afixado em quase todas as fachadas dos salões: “VENDE-SE CABELO VIRGEM BRASILEIRO”!!!