paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

dimanche, août 06, 2006

Oh! Grand Palais

Quem lia a coluna na MTV já conhece este texto. Resolvi ressuscitá-lo porque fui no Grand Palais a semana passada e ele sempre me comove. A exposição atual, "Drôles de Machines" (sobre peças de teatro de rua), é mambembe e tosca, mas qualquer coisa ganha ares de importância ali dentro! A história do Grand Palais é curiosa e os globos que ele exibiu em sua reabertura são lindíssimos, por isso repito tudo!


Uma das jóias da arquitetura parisiense do final do século XIX, o majestoso salão de aço e vidro conhecido como Grand Palais, abriu para o público pela primeira vez no ano passado, após 12 anos de intensa e monumental reforma. Fechado por razões de segurança desde 1993, o prédio foi restaurado e agora retorna à sua vocação como um dos espaços mais atraentes para exposições e eventos culturais de Paris com a elegância de seus primeiros dias. O apuro da restauração envolveu os mínimos detalhes: a cor da estrutura, por exemplo, um tom de verde característico das obras em metal da Belle Époque, não existia mais. Precisou-se pesquisar em laboratório para determinar a composição exata da nuance agora batizada de “Verde Grand Palais”, seguindo o modelo do “Marrom Torre-Eiffel”.

Construído com o único objetivo de sediar a “Exposição Universal de Paris” em 1900, o belo palácio Art Nouveau mede 200 metros de comprimento e 60 de altura em seu ponto mais alto do domo. Ocupa uma área de 35 mil metros quadrados e ajudou a desenvolver a área próxima à Champs-Elysées, juntamente com o seu vizinho Petit Palais e a magnífica Ponte Alexandre III, os três erigidos simultaneamente. Pasmem, mas originalmente este colosso seria demolido após o evento que apresentava as novas conquistas tecnológicas, como a eletricidade, e reafirmava a gloriosa condição de Paris como a capital das artes e da civilização. Também celebrava a “ação civilizadora” da França em colônias como a Tunísia, Argélia, Indochina, Sudão, Marrocos…

O Grand Palais também serviu na 1ª Guerra Mundial como hospital e na 2ª, durante a ocupação da França pelas tropas de Hitler, como estacionamento de caminhões alemães. Nas décadas seguintes hospedou uma variedade de exposições internacionais, feiras de balonismo e até serviu como pista de corrida de cavalos! Recentemente alguns dos desfiles de prêt-à-porter foram transferidos pra lá. Marcas como Christian Dior, Chanel, Yves Saint-Laurent e Hermès ocuparam o super espaço que agora é fixo no calendário fashion.

A grande atração da reabertura foram os globos do século XVII suspensos no meio do salão por guindastes. Pelas fotos não é possível visualizar a sua grandiosidade porque o próprio salão é imenso! Placas de espelhos estrategicamente colocadas embaixo das esferas permitiram visualizar a riqueza dos detalhes pintados pelo artista. Encomendados por Luis XIV os globos têm quase 4 metros de diâmetro e pesam a exorbitância de 1.500 quilos cada um! Confeccionados em 1680 pelo italiano Vincenzo Coronelli, um monge franciscano que também era exímio cartógrafo, os globos de madeira e gesso são peças raras de beleza e refinamento artístico (eu decidi que quando for rica e famosa vou comprar um globo Coronelli, é essencial!).

O globo celestial, decorado de pinturas sobre um fundo azul, mostra as constelações representadas por animais ou personagens mitológicos e destaca os planetas e cometas observados por astrônomos como Tycho Brahé, Johannes Kepler e Giovanni Cassini. O globo também retrata o céu no momento em que Luis XIV nasceu, em 5 de setembro de 1638. Aliás, o nascimento do Rei Sol foi dado como um milagre, afinal ele veio ao mundo após 23 anos de um casamento sem filhos!!! A mãe, Ana d’Áustria, contava 36 anos e lhe deu o nome de Luis “Dado por Deus” (Louis Dieudonné). Luis XIII era misógino e, consequentemente, tinha fama de homossexual. Ele era o contrário do seu pai, Luis XIV, que adorava as mulheres e teve várias amantes e filhos, além dos oficiais obviamente.

O globo terrestre, que mapeia o mundo que era conhecido no final do século XVII, tem ilustracões dos diferentes tipos humanos, objetos científicos e símbolos de conquistas. Uma parte curiosa do mapa, em que está localizada a América do Norte, apresenta a Califórnia como sendo uma ilha e a foz do rio Mississippi fora do lugar. Se isso foi um erro do cartógrafo ou uma manobra de Luis XIV para confundir aqueles que desejassem invadir sua colônia através do Atlântico não se sabe… Esta ex-colônia é a Louisiana (o nome foi uma homenagem ao rei), que foi vendida para os americanos em 1803.

A última vez que o público pôde apreciar estes globos foi há 25 anos no Centro Pompidou e antes disso só há 100 anos! Agora eles estão sendo restaurados para a próxima exibição na Biblioteca Nacional da França. Vale a pena vê-los!