paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

jeudi, mai 03, 2007

"Dalida, le monde pour destin"

Foi num domingo de sol, em 3 de maio de 1987, que Dalida decidiu partir por conta própria, tinha 54 anos. No seu bilhete de adeus poucas palavras, mas que resumiam bem a sua tragédia pessoal: “A vida me é insuportável, me perdoem”.

Dalida viveu seu papel de diva com grande empenho. Sua beleza dourada e a alma angustiada que tanto nos seduziram, viveram momentos de glória e triunfo, mas também mataram todos os seus amores… A alma de Dalida, frágil e ciumenta de si própria, preferia a solidão.

Não foi a primeira vez que a estrela decidiu brilhar em outra constelação. Vinte anos antes, também num domingo, Dalida premeditou a sua morte. Tinha então 34 anos e estava no auge da carreira, mas o seu grande amor, o italiano Luigi Tenco, tinha se suicidado há exatamente 30 dias com uma bala na cabeça. Desde esta terrível perda, Dalida nunca mais foi a mesma.

Em 27 de fevereiro de 1967 tudo havia sido pensado e calculado. Dalida colocou suas coisas em ordem e providenciou para que nada pudesse faltar aos seus queridos, especialmente para a sua mãe. Para poder agir com tranquilidade e não ser descoberta no meio do “pulo” – ela tinha certeza do que queria -, Dalida avisa aos amigos que iria viajar. A encenação vai até o aeroporto de Orly, da onde ela retorna de táxi, disfarçada de “mulher comum”, para a sua casa em Montmartre.

Trancada em seu quarto, refugiada no silêncio, Dalida escolheu uma camisola branca de dentelle, se maquiou cuidadosamente e penteou os longos cabelos. Escreveu quatro cartas de despedida e se deitou na cama imensa à espera dos sonhos. Os três tubos de soníferos começaram a fazer efeito, Dalida ia de encontro ao seu amor. Mas no meio do caminho, um imprevisto... A empregada zelosa se intrigou com o bilhete pendurado na porta desde a véspera: “Não perturbar”. E assim o seu sono foi cortado e a Bela Adormecida foi forçada a voltar para este lado após 72 horas de "passeio".

Dias mais tarde, bela, como nunca deixou de ser, Dalida dizia:

“Foi o cansaço que me matou. Uma manhã ele se instalou junto de mim e não mais me abandonou… Hoje, Luigi Tenco está morto. Ele morreu para provar, talvez, que era digno de amor. Eu morri porque me amavam demais. Luigi Tenco partiu obrigado, sem verdadeiramente querer; eu o segui querendo muito."

"Eu me afundei em letargia depois da morte de Luigi. Minha vida não representava nada mais que uma caminhada sem futuro, nada mais existia de fato. Eu quis morrer sem nenhuma raiva de mim. Eu quis morrer como se executa um trabalho necessário, resolvido, decidido, sem me querer mal. Eu morri como alguns que se abandonam, ausentes, à um jantar que lhes aborrece. Eu não farei novamente. Mas eu não ofendi à Deus, eu não acredito. Deus não pode se ofender por àqueles que quiseram tirar a vida por boas razões. Os mortos sentem muito mais falta dos vivos que os vivos dos mortos…”


Vinte anos após a sua partida, ela vive em cada música entoada por sua voz suave, em cada imagem marcada por seu olhar arredio, em cada fã apaixonado. Em "Dalida, Paris pour destin", a primeira exposição em homenagem à grande artista, ela vive em plenitude. Imagens, fotos e documentos inéditos serão exibidos pela primeira vez, além de objetos, vestidos, e souvenirs pessoais. "Dalida, Paris pour destin", se estende até 8 de setembro no Hôtel de Ville e, segundo o prefeito de Paris, é uma maneira de lhe dizer obrigado.

Dalida, de fato, nunca morreu.