paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

jeudi, juillet 05, 2007

um homem contra a crítica
















ele se acha um diretor injustiçado, maldito, vítima da crítica. pra fazer o seu último filme, "Roman de Gare", decidiu adotar um pseudônimo, acreditava que assim ficaria longe do mau-olhado dos críticos e poderia trabalhar em paz. mas durante o Festival de Cannes foi obrigado a revelar que atrás de Hervé Picard se escondia ele, um dos maiores diretores franceses... claro que a crítica aproveitou pra espezinhá-lo e fazer piada do seu estratagema. o triste é que Claude Lelouch realmente se abala com tudo isso, por mais que ele monte o seu discuro de "estou acima de tudo isso", ele se sente perseguido e coloca na crítica a culpa dos seus últimos filmes não terem tido o sucesso que ele esperava. a verdade é que não importa o tamanho da pedra que atirem, a obra de Claude Lelouch é uma muralha forte e bela do cinema francês e mundial. talvez ele devesse abandonar o culto ao número 13 e acreditar no que ele mesmo diz na entrevista que concedeu para A Nous Paris.

O que o motivou a pegar de novo a câmera para filmar
“Roman de Gare” ?

Eu não preciso de motivação para fazer um filme. O cinema é a minha forma de existir, é minha forma de respirar. Então eu tive apenas uma necessidade de respirar.

Por que você quis fazer um filme policial?

Porque é o gênero que mais se aproxima da vida, visto que estamos todos condenados à sermos assassinados de um jeito ou de outro (risos). Eu acho que Deus é o maior serial-killer de todos os tempos. Ele inventou o crime perfeito antes de todo o mundo. A vida é um filme policial porque a gente não sabe a data da nossa morte, o filme é construído em cima deste mesmo suspense.

Como veio a idéia de filmar usando um pseudônimo?

A razão foi de proteger a história. E depois, eu queria me proteger também. Quando se faz um filme, existe uma pressão que pode prejudicar a criação. Então eu quis encontrar o frescor de meus primeiros filmes, usando a competência dos meus 50 anos de cinema. Além disso, eu não queria que me fizessem perguntas durante a produção do filme, porque eu vinha de um fracasso. E, quando é assim, todo o mundo vem te dizer o que é preciso fazer! Eu tinha vontade de ir fundo na minha viagem, sem as malas que as pessoas que têm uma reputação carregam…

Como você explica estas “malas” que aparecem cada vez que você lança um filme?

Você sabe, depois de 50 anos de cinema, te colocam dentro de uma concha. É como na escola, com os bons e os maus alunos. Se um mau aluno vem um dia com uma boa redação – eu fiz esta experiência trocando minha redação com meu melhor amigo que era o primeiro da classe! – ele recebe uma nota ruim. É o que se chama da boa ou má reputação. A gente não pode mudar a ordem das coisas.

Depois do fracasso de “Parisiens”, o que você espera dos críticos que não foram "carinhosos" com você?

Eu não espero nada de ninguém. Eu tive a chance de fazer 41 filmes e eu estaria muito mal situado se esperasse algo de quem quer que seja. Eu sou um homem realizado no cinema e na vida também. Além disso, o fato de terem enfiado no meu cu a vida toda, me permitiu progredir!

Você imagina se aposentar?

Hoje a única coisa que poderia me impedir de filmar, é uma doença grave ou uma depressão enorme. Mas enquanto eu puder fazer rodar uma câmera, eu a farei rodar, mesmo que isto seja para mostrar filmes à minha família ou aos meus amigos. Eu comecei como cineasta amador, eu quero terminar como videasta amador. Hoje, cada filme que eu faço a mais, é um bônus, um presente extra.

Você revê os seus filmes?

Não, eu não gosto muito. Eu sou mais um homem do futuro que do passado, e eu penso que cada filme é o rascunho do próximo. “Roman de Gare” pôde ser feito graças aos 40 rascunhos que eu fiz antes e se eu fizer o 42º, "Roman de Gare" se tornará o 41º rascunho. Eu estou, portanto, de volta à escola 40 vezes. A escrita cinematográfica está apenas no seu começo. O cinema tem um pouco mais de 100 anos. O cinema está, portanto, em andamento, em curso de achar a sua escrita.

Quais são os seus projetos?

Eles dependem de acontecimentos que eu não controlo. Em caso de sucesso, ou em caso de fracasso, existe um plano A e um plano B (risos). Têm filmes que eu posso fazer com dinheiro e filmes que eu posso fazer sem dinheiro. Eu me comporto como um navegador, eu tenho as velas em caso de bom ou de mau tempo. Mas eu venho de um período de mau tempo, então eu queria muito navegar um pouquinho com o vento à favor.

O que você tem como livros de cabeceira?

Eu não tenho muitos. Tem muita gente que escreveu coisas sublimes. Agora eu passei a outra coisa, mas durante vários anos eu considerei que “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, era o filme perfeito… enfim, o livro perfeito! Você vê, o lapso é interessante. Você sabe, eu amo as pessoas, as palavras, as imagens e a música, e com isso, eu fiz minha vida. Foi misturando estas 4 paixões que eu pude fazer filmes.

Então foi com estes ingredientes que você pôde fazer 41 filmes?

E também me servindo mais do meu instinto que da minha inteligência. A inteligência nos explica que somos mortais, enquanto que o nosso inconsciente diz que somos imortais. Aliás, eu não gosto da palavra “fim” nos filmes, e eu gosto ainda menos na vida. Ainda que, se a morte existe e todos temos direito, é porque ela é, com certeza, a mais bela invenção que existe… mas eu não estou com pressa de conferir esta fórmula! (risos)

Uma palavra de conclusão?

Em breve nos cinemas… o 42º filme! (risos)