paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

dimanche, juillet 16, 2006

o saldo da mudança

Quem leu “O caso do chiclete” conheceu as agruras que eu passei limpando o apartamento em Montparnasse e soube detalhadamente o que eu tive que tirar detrás da máquina de lavar roupas não vai se espantar com o que eu vou contar agora… Mudei de apartamento faz 3 semanas e apesar deste imóvel estar “limpo” para os padrões franceses, acabei de contabilizar o saldo do que foi retirado. Ai, ai, viver em Paris é fazer coleta de lixo, quiça, de séculos, hehe.

Atrás do armário que fica embaixo da pia da cozinha tem um vão e vãos são lugares estrategicamente problemáticos para os franceses, conforme aprendi na prática. Enfim, neste limbo de 20cm de largura e 1m de altura que deus esqueceu de colocar a luz, encontrei uma toalha de banho daquelas tamanho família completamente embolorada, uma flanela em bom estado (sabe se lá como), 3 tampas de panela de aço inox, uma vasilha de cerâmica cor de laranja e o achado que pra mim já é um clássico parisiense: xícaras de café usadas!!!

E não termina por aí: no quarto, dentro da majestosa mas puramente decorativa lareira de mármore cinza, havia lenha, lenha esturricada, bien sûr! Detalhe: é proibido usar lareiras em Paris por motivos de segurança há décadas (na periferia parisiense pode, tanto que eles vivem queimando tudo por lá, é uma gente muito festeira, très vivant, que adora botar fogo em carros!). Fora a lenha, havia uma pá, pesadíssima por sinal, dessas que também servem pra cobrir cova. E além da pá havia um fole e este sim era fantástico, fiquei até emocionada por descobri-lo! Ele estava enterrado sob o carvão e já grudado no mármore, eu tive um certo trabalho para arrancá-lo de lá. Um certo sentimento de pena me abateu por colocá-lo no lixo, afinal tinha um cabo bonito com a madeira trabalhada, mas após refletir um pouco olhando para o grande espelho centenário que pende sobre a lareira o fiz sem dó nem piedade, afinal este prédio é de 1900 e tem até fantasma no hall de entrada!

Eu realmente não sei o que acontece com esse povo!

Essa semana nossa conterrânea Luci, de João Pessoa, levou uvas para a aula e ofereceu para quem estava por perto. Então a vietnamita que atende pelo pitoresco nome de Thran, perguntou delicadamente se Luci havia lavado as uvas. E a paraíbana, indignada, esbravejou: “Você acha que brasileiro é que nem francês que não lava o que come?” HAHAHAHAHA! Thran, casada com um nativo, concordou plenamente quanto ao lado francês. Depois quando perguntam qual é a fama que eles têm e a gente responde que é de ser sujinho, eles fazem bico… Agora me digam se existe outro lugar na Terra onde se compra um fogão e nas instruções se lê em letras ituanas: "NÃO COZINHAR COM A PANELA SUJA!" Esta frase diz tudo e encerra o caso.