paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

mercredi, septembre 19, 2007

Karl Lagerfeld: o senhor dos iPods

“Lagerfeld Confidentiel”, documentário de Rodolphe Marconi sobre o Kaiser da moda, estréia nos cinemas franceses dia 10 de outubro e promete revelar um pouco mais sobre a figura excêntrica e sempre pronta a disparar comentários ácidos. filho de pai escandinavo e mãe alemã, Karl veio pra Paris com 19 anos e nunca perdeu o sotaque germânico! começou como assistente de Pierre Balmain e está a frente da Chanel desde 1983, além de ter as suas próprias marcas, K e Karl Lagerfeld. criador, fotógrafo, autor, editor e apaixonado por música, ele jura que quer ser apenas como uma aparição na vida das pessoas… mas a verdade, atrás dos seus inseparáveis óculos escuros e anéis de metaleiro, ele procura ansiosamente nos livros de sua imensa biblioteca. desconfio.


Por que você aceitou ser o tema do filme?

É o que eu me pergunto! Por insistência e porque eu achei que o diretor tinha uma visão não muito banal. E o resultado é bastante bonito, um tanto estético mesmo. Ele só me mostra dentro de jatos, na noite… mas quando se trabalha?!?

Então, na sua vida você nunca pára?

Sim, mas ao mesmo tempo, não é muito necessário que se veja isso porque é super cansativo pessoas que te atordoam dizendo: “Eu trabalho!” Se vende a estupidez e a felicidade, não se vende as memórias de Kierkegaard!

O que você tem a dizer sobre as tendências de inverno?

Eu já estou no verão. O inverno é uma coisa que eu já esqueci, porque o meu grande truque é esquecer para refazer.

Você não corre o risco de fazer a mesma coisa?

Eu não sou cego e meus colaboradores não são mudos, eles me dirão. A gente pode discutir. Um dia, um outro criador me disse: “Você sabe, se a gente faz qualquer coisa que os outros têm o costume de fazer, ainda será muito melhor que a média!”. E assim se é feliz, hein? Claro que estas anedotas seriam mais picantes se eu desse os nomes, mas deixa pra lá…

Você pode dar o nome dos colegas que você aprecia então…

Eu não gosto muito das pessoas da minha geração porque elas são meio gagás e um pouco entediantes; fora Armani, Oscar de La Renta e Valentino. Mas eu gosto muito da nova geração, os que têm 30, 40 anos, eles são divertidos. Tom Ford me faz rir.


O que você pensa da moda masculina?

Isso me interessa no que diz respeito ao que eu visto, mas, infelizmente, eu não acredito num criador de camiseta e jeans surrado que faz vestidos de 5000 euros.

É por isso que você se veste sempre do mesmo jeito?

Nunca são as mesmas coisas, mas é o look que faz que, em mim, tudo se pareça igual. Eu fiz de mim uma espécie de Charlie Chaplin do cotidiano. As pessoas acreditam que é super estudado, mas é uma sucessão de acasos.

Você veste as roupas que você cria, da marca K, por exemplo?

Sim, eu adoro. Quando se faz moda masculina não há melhor maneira de assumir do que vestindo suas próprias roupas. Mas eu não vou desenhar só pensando em mim porque eu não sou um exemplo. Eu sou, de qualquer modo, um pouco à parte, francamente.

Quem é para você um ícone absoluto em se tratando de moda?

Se eu dou um nome todos os outros vão ficar magoados. Além disso, eu começo a ficar um pouco de saco cheio dos ícones do passado. É absurdo pensar que era melhor antes.

No entanto, você também é um ícone, não?

Sabe, eu não acordo dizendo pra mim: “Uau, o ícone se desperta!”. O ícone fica resfriado e tem dor de barriga como todo o mundo. E no segundo que você pensa que é um ícone, você está perdido! Eu sou um animador de marionetes.

O que você deseja que se retenha de você?

Isso me deixa louco, eu não sei. “Retiens la nuit” não é o nome de uma música? Eu não sei. Você retém o que você quer. Retenção de água! (risos)

No documentário se vê que você possui 60 iPods. Você sabe o que tem em cada um deles?

Eu já tenho mais do que isso agora. É um belo objeto. Hoje, quando se vê um Walkman que se acha genial quando é lançado, se tem a impressão que é uma máquina de lavar! Eu coloquei todos os meus cds em iPods – isso já completou quase uma centena! – e, depois, eu os pego por acaso, o que me permite de redescobrir coisas que eu não iria jamais procurar.

Você possui também mais de 300 mil livros. Como você explica esta bulimia?

Eu quero saber tudo, conhecer tudo, estar informado de tudo. É uma espécie de oportunismo intelectual e de frenesi frívolo, pode ser artificial, mas no final das contas eu sou mais cultivado ou instruído que a maior parte das pessoas que fazem o métier.

Uma palavra de conclusão?

Não é necessário jamais concluir, já que a luta continua. Mesmo se a gente combate os moinhos de vento, como Dom Quichote… A moda é isso. É o barril das Danaides, uma luta onde não há vitória.

Não é um pouco fútil tudo isso?

Dar a aparência de futilidade não é a futilidade. A moda sustenta muita gente. É um produto como outro, um produto visível, um produto de desejo e é isto o que faz o seu lado excitante…

* entrevista concedida à Fabien Menguy