paris à go-go

crônicas sobre Paris e de sua ululante gente francesa

lundi, août 28, 2006

o muro de Kathrina

ontem, domingo chuvoso, passou um especial sobre os acontecimentos que marcaram os anos 80 e lá estava a queda do muro de Berlim. todos felizes, chorando, se abraçando, arrancando pedaços do paredão, enquanto que o chanceler alemão, Helmut Kohl, tentava se livrar dos tentáculos de Mikhail Gorbachev. O líder soviético, do outro lado da linha vermelha, dizia-se preocupado, porque segundo a KGB a situação na Alemanha estava fora de controle, e lhe pedia que autorizasse a invasão do território pelas tropas russas, para botar ordem no barraco do kaiser. Kohl respirou fundo, afinal era a palavra dele contra a do tenebroso serviço secreto russo, e disse que estava tudo em ordem, tudo sob o austero controle germânico. Mikha, felizmente, aceitou as considerações do alemão e foi beber uma vodka enquanto mandava a KGB passear em volta do Kremlin.

isso tudo me lembrou de Kathrina, minha colega de classe que tinha 17 anos em 1989, ano em que o muro caiu. ela, que morava do lado oriental, em Leipzig, me disse que ao mesmo tempo em que todos estavam eufóricos, tirando a roupa de felicidade (diz que fazia um frio infernal!), também estavam apreensivos, porque achavam que o pior poderia acontecer, que o muro não poderia cair simplesmente e tudo ficar bem, afinal a vida tinha sido bem rancorosa naqueles tempos de Guerra Fria. segundo ela, nada lhes faltava, mas ao mesmo tempo eles não tinham autorização para trocar de carro quando bem entendessem (isso significava ficar com o mesmo por quase 20 anos), e nem de viajar ao exterior, a não ser que o destino fosse um dos países da cultuada cortina de ferro. mesmo assim, pessoas acima dos 40 anos dificilmente conseguiam permissão para deixar o país. Kathrina me disse que eles desconfiavam de tudo e de todos, que essa era a doença. que eles conheciam os vizinhos de vista, que jamais a conversa ia além do "bom dia" e do "boa noite" porque qualquer palavra diferente poderia ser motivo para uma denúncia. quando as minhas aulas terminaram, em 31 de julho, a menina naturalista até o último fio de cabelo alvo e que levava cenouras para roer no lanche, já estava quase parindo seus gêmeos que se incomodavam com Edith Piaf. era só a professora botar a voz da francesa pra tocar que eles se exaltavam e faziam da barriga da mãe um ringue de boxe. Kathrina iria os ter em casa, aqui mesmo em Paris, onde se casou com um francês que conheceu na Colômbia, e só depois iriam todos para o hospital. agora ela já deve ser uma canguru.

jeudi, août 24, 2006

o cão-de-ló de cada dia

hoje vi uma coisa que me pareceu absurda, me digam se eu estiver equivocada. eu voltava tranquilamente da lavanderia, quer dizer, não tão tranquilamente porque logo logo o céu iria despencar como tem acontecido todos os dias há uma semana, quando uma dama trajando negro e um schnauzer combinando cruzaram o meu caminho. apesar de serelepe, o petit shinauzer quase esbarrava a barriga no chão de tão estufada e tinha algo na boca, dava pra ver bem... foi só chegar mais perto pra não haver dúvida: era uma chupeta!!! sim, o schnauzer preto se entretia com uma chupeta branca! adivinhando o óbvio espanto, a madame sorriu pra mim e continuou o galope arrastando o bichinho como brinquedo.

lundi, août 21, 2006

"Ne me quitte pas"

jacques brel soube cantar como ninguém o amor desesperado. nesses momentos de coração partido, em que cada batimento sangra insensatez, se esquece de tudo e qualquer promessa que jamais será cumprida é lançada sem pudor. e, talvez, por isso mesmo, as promessas sejam tão absurdas… mas cuidado, esta música tem o dom de arruinar em lágrimas almas quebradiças, principalmente em sua estrofe final - eu tapo os ouvidos sempre!

“Não me deixe”

Não me deixe
É preciso tudo perdoar
Tudo pode se perdoar
O que já passou
Esquecer o tempo
De mal-entendidos
E o tempo perdido
Saber como
Esquecer essas horas
Que matavam por vezes
A golpes de por quê
O coração da felicidade
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe

Eu te darei
Pérolas de chuva
Vindas de um país
Onde não chove
Eu cavarei a terra
Até após a minha morte
Para cobrir o teu corpo
De ouro e de luz
Eu farei um domínio
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde você será rainha
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe

Eu inventarei
Palavras sem sentido
Que você compreenderá
Eu te falarei
Destes amantes
Que viram duas vezes
Seus corações se incendiarem
Eu te contarei
A história deste rei
Morto por não ter
Conseguido te encontrar
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe

Se viu várias vezes
Jorrar o fogo
De um antigo vulcão
Que se supunha velho demais
Dizem que
Terras ardentes
Dão mais trigo
Que a melhor primavera
E quando vem a noite
Para o céu brilhar intensamente
O escarlate e o negro
Não se casam?
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe

Não me deixe
Eu não vou mais chorar
Eu não vou mais falar
Eu me esconderei ali
A te olhar
Dançar e sorrir
E a te escutar
Cantar e depois rir
Deixe eu me tornar
A sombra da tua sombra
A sombra da tua mão
A sombra do teu cão
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe
Não me deixe...

vendredi, août 11, 2006

a marmelada da Melissa

eu poderia ter pedido maria-mole, eu poderia ter pedido um pacote de pipocas cor-de-rosa, mas que nada, eu tive a péssima idéia de pedir uma Melissa. então a Dani veio pra Paris e me deu de aniversário a bota assinada pelo Alexandre Herchcovitch comprada na Galeria Melissa. tudo muito bom, tudo muito bem, mas assim que eu experimentei a bota, o velcro que serve de fecho simplesmente descolou por inteiro do pé esquerdo. aliás, nem sinal de cola tinha no plástico! de repente é um novo experimento da Grendene: colar o velcro usando a força do pensamento para não sujar o produto, hahahaha! enfim, a Dani mandou e-mail reclamando, mas a Grendene só trocaria a bota se eu a enviasse pro Brasil porque a empresa não manda porte pago pro exterior. então azar meu, ou da Melissa, que vai pro lixo mesmo! e eu fiquei sem presente, c’est la vie… agora aprendi: da próxima vez peço pé-de-moleque, da marmelada da Melissa eu fiquei cheia!

dimanche, août 06, 2006

Oh! Grand Palais

Quem lia a coluna na MTV já conhece este texto. Resolvi ressuscitá-lo porque fui no Grand Palais a semana passada e ele sempre me comove. A exposição atual, "Drôles de Machines" (sobre peças de teatro de rua), é mambembe e tosca, mas qualquer coisa ganha ares de importância ali dentro! A história do Grand Palais é curiosa e os globos que ele exibiu em sua reabertura são lindíssimos, por isso repito tudo!


Uma das jóias da arquitetura parisiense do final do século XIX, o majestoso salão de aço e vidro conhecido como Grand Palais, abriu para o público pela primeira vez no ano passado, após 12 anos de intensa e monumental reforma. Fechado por razões de segurança desde 1993, o prédio foi restaurado e agora retorna à sua vocação como um dos espaços mais atraentes para exposições e eventos culturais de Paris com a elegância de seus primeiros dias. O apuro da restauração envolveu os mínimos detalhes: a cor da estrutura, por exemplo, um tom de verde característico das obras em metal da Belle Époque, não existia mais. Precisou-se pesquisar em laboratório para determinar a composição exata da nuance agora batizada de “Verde Grand Palais”, seguindo o modelo do “Marrom Torre-Eiffel”.

Construído com o único objetivo de sediar a “Exposição Universal de Paris” em 1900, o belo palácio Art Nouveau mede 200 metros de comprimento e 60 de altura em seu ponto mais alto do domo. Ocupa uma área de 35 mil metros quadrados e ajudou a desenvolver a área próxima à Champs-Elysées, juntamente com o seu vizinho Petit Palais e a magnífica Ponte Alexandre III, os três erigidos simultaneamente. Pasmem, mas originalmente este colosso seria demolido após o evento que apresentava as novas conquistas tecnológicas, como a eletricidade, e reafirmava a gloriosa condição de Paris como a capital das artes e da civilização. Também celebrava a “ação civilizadora” da França em colônias como a Tunísia, Argélia, Indochina, Sudão, Marrocos…

O Grand Palais também serviu na 1ª Guerra Mundial como hospital e na 2ª, durante a ocupação da França pelas tropas de Hitler, como estacionamento de caminhões alemães. Nas décadas seguintes hospedou uma variedade de exposições internacionais, feiras de balonismo e até serviu como pista de corrida de cavalos! Recentemente alguns dos desfiles de prêt-à-porter foram transferidos pra lá. Marcas como Christian Dior, Chanel, Yves Saint-Laurent e Hermès ocuparam o super espaço que agora é fixo no calendário fashion.

A grande atração da reabertura foram os globos do século XVII suspensos no meio do salão por guindastes. Pelas fotos não é possível visualizar a sua grandiosidade porque o próprio salão é imenso! Placas de espelhos estrategicamente colocadas embaixo das esferas permitiram visualizar a riqueza dos detalhes pintados pelo artista. Encomendados por Luis XIV os globos têm quase 4 metros de diâmetro e pesam a exorbitância de 1.500 quilos cada um! Confeccionados em 1680 pelo italiano Vincenzo Coronelli, um monge franciscano que também era exímio cartógrafo, os globos de madeira e gesso são peças raras de beleza e refinamento artístico (eu decidi que quando for rica e famosa vou comprar um globo Coronelli, é essencial!).

O globo celestial, decorado de pinturas sobre um fundo azul, mostra as constelações representadas por animais ou personagens mitológicos e destaca os planetas e cometas observados por astrônomos como Tycho Brahé, Johannes Kepler e Giovanni Cassini. O globo também retrata o céu no momento em que Luis XIV nasceu, em 5 de setembro de 1638. Aliás, o nascimento do Rei Sol foi dado como um milagre, afinal ele veio ao mundo após 23 anos de um casamento sem filhos!!! A mãe, Ana d’Áustria, contava 36 anos e lhe deu o nome de Luis “Dado por Deus” (Louis Dieudonné). Luis XIII era misógino e, consequentemente, tinha fama de homossexual. Ele era o contrário do seu pai, Luis XIV, que adorava as mulheres e teve várias amantes e filhos, além dos oficiais obviamente.

O globo terrestre, que mapeia o mundo que era conhecido no final do século XVII, tem ilustracões dos diferentes tipos humanos, objetos científicos e símbolos de conquistas. Uma parte curiosa do mapa, em que está localizada a América do Norte, apresenta a Califórnia como sendo uma ilha e a foz do rio Mississippi fora do lugar. Se isso foi um erro do cartógrafo ou uma manobra de Luis XIV para confundir aqueles que desejassem invadir sua colônia através do Atlântico não se sabe… Esta ex-colônia é a Louisiana (o nome foi uma homenagem ao rei), que foi vendida para os americanos em 1803.

A última vez que o público pôde apreciar estes globos foi há 25 anos no Centro Pompidou e antes disso só há 100 anos! Agora eles estão sendo restaurados para a próxima exibição na Biblioteca Nacional da França. Vale a pena vê-los!

mercredi, août 02, 2006

"um coelho incomoda muita gente, dois coelhos incomodam, incomodam muito mais..."

coisas estranhas acontecem em paris, fico com a sensação de uma câmera ligada 24 horas por dia pronta pra registrar reações estapafúrdias! imaginem que ontem, dentro do mormaço da linha 4 do metrô, um casal lindo e negro discutia. coisa comum, bien sûr, em qualquer lugar do mundo - MAS PELO CELULAR?! pois foi isso. a fofa furiosa, sentada sozinha num dos bancos duplos, vomitava palavras requentadíssimas e o fofo desconsolado as engolia à seco, 4 fileiras na frente, num vagão das 8 da noite praticamente às moscas. as poucas pessoas presentes se entreolhavam desconfiadíssimas… e eu lá, assistindo de strapotin, leque em punho, me refrescando com a minha inseparável garrafinha de água, só faltou a pipoca, hehe. infelizmente desci antes do término da novela, mas se eu fosse ele ajuntava todas as letras do chão e esfregava na cara brilhosa dela!

p.s.: pensando bem o metrô de paris não pode ser levado à sério: quem escolhe um coelho rosa de macacão amarelo pra avisar que não se deve colocar a mão na porta só pode estar fazendo graça! (mas o coelho não é fofo? HAHAHAHAHA!) e alguém lembra do jackass no metrô de paris fantasiado igual? pelo menos nessa vez os franceses riram…